domingo, 4 de fevereiro de 2018

Em se plantando tudo dá!

         
Lembro-me quando aquele homem me procurou pela primeira vez na rádio a procura de ajuda. Ele me disse que estava desempregado e que lhe faltava comida em casa.

Conseguimos ajudá-lo por meio de um apelo no ar, depois que conversei com ele, com o objetivo de levar ao conhecimento dos ouvintes o drama que aquele desempregado enfrentava.

O telefone da rádio tocou após o apelo, e vários foram os telefonemas de ouvintes dispostos a ajudá-lo. Providenciamos meios para arrecadar os alimentos doados e o entregamos. 

Passados alguns dias, o mesmo homem voltou para fazer um novo pedido e, do mesmo modo, o atendemos.

Da terceira vez, ele fez um novo pedido. Na tentativa de ajudá-lo mais efetivamente aprofundei minha conversa com ele. Aquele homem morava numa espécie de sítio, num barraco simples e havia terra para cultivar. Perguntei a ele se havia alguma plantação na terra onde morava. Ainda em nossa conversa, o perguntei se tinha interesse de receber algumas sementes para plantio, ou alguma ajuda para cultivar a terra e, assim, pelo menos poderia ter algo que pudesse futuramente comer, e até vender. 

      Ele ficou desconcertado com a conversa, pareceu-me não ter interesse em receber aquele tipo de ajuda que, certamente, poderia libertá-lo de pedidos futuros. Foi a última vez que aquele homem foi à rádio me procurar para pedir comida. 

Lembrei da história que meu pai contava do meu avô Chico, que tinha uma grande área plantada para o consumo da família. Alguns moradores próximos, que mesmo tendo terra não plantavam, por vezes iam procurá-lo para pedir ajuda. E ele nunca negou.

A terra é generosa em sua produção
"Esse aqui é para você levar para comer; e esse aqui é para você plantar" - dizia meu avô, dando as instruções de como deviam fazer. "Se plantarem, daqui alguns meses também estarão colhendo"- reforçava. 

     Eu ainda fico impressionado quando vejo pessoas passando fome nos rincões desse país e sequer podemos ver um pé de couve no quintal. Quem mora em regiões interioranas, ou longe dos centros urbanos, e gozam do privilégio de ter em volta um pedaço de terra para plantar, nem que seja para o próprio consumo, não deveriam ter o direito de reclamar a falta do que comer. 

     Digo isso porque já morei em casa com quintal. Não faltavam pés de milho; a mandioca; a abobrinha; a batata-doce; o quiabo e hortaliças como couve, alface, entre outros. Em nossa vizinhança conheci o Lula, que vendia couve num carrinho de mão e, futuramente, inaugurou uma mini mercearia. 

    É possível que aqueles que reclamam, assim o fazem como consequência do acesso ao conhecimento de uma realidade que enxergam do lado de fora, distante daquela em que vivem e, iludidos,  passam a desejar uma vida da qual também teriam direito, mas sem condições mínimas de administrá-la longe de seu cercado, e em outras frentes, por vários motivos.

Quando observamos a maneira como se exploram as dificuldades dessas pessoas, levando-as a lamentarem pelo despertamento de seu estado de calamidade sem, contudo, apresentar a elas uma alternativa dentro de sua própria realidade, e o que podem fazer com o que tem em mãos, entendemos que poucos há que se interessam pela situação calamitosa que outros vivem, a não ser a exploração política e ideológica, que não contribui para que essas pessoas mudem de vida. Acabam tendo que "eleger" um inimigo para atacarem, roubando-lhes as energias para olharem para suas próprias potencialidades e capacidade de superação.

As desigualdades sociais existem. Mas se cada um fosse ensinado a viver essas diferenças como uma fase que pode ser superada pelo esforço, trabalho, planejamento e ação, não haveria tanta reclamação e tantos protestos levantados por ideologias políticas. Cada ser humano possui potenciais adormecidos, que podem ser úteis se o indivíduo for liberto da escravidão ideológica ao apregoar que, "a culpa da pobreza e miséria de uns, é da riqueza e prosperidade dos outros".  
     

Sem comentários:

Enviar um comentário

Se não por ingenuidade, a crise é proposital e de cunho político

              Eu vivi num tempo, não muito distante, em que muitos usavam essa frase retórica: “De que adianta ter carro e não ter di...