terça-feira, 22 de maio de 2018

A Ditadura assistencialista X Meritocracia


Uma discussão recente abordava a questão da meritocracia e sua controvérsia quando se depara com situações em que o indivíduo não dispõe de oportunidade para vencer na vida por seus próprios méritos. Saindo da questão objetiva, de que todo ser humano saudável é competitivo por natureza, e que até os bebês se manifestam com o senso de sobrevivência ao buscar o seio da mãe, caímos no contexto subjetivo, ou seja, das realidades especiais que devem ser tratadas distintamente. O indivíduo que se mostra apático ou desinteressado por questões ligadas à manutenção da própria vida, provavelmente possui alguma anomalia cognitiva. Mas pode haver outros fatores por de trás desse comportamento. É preciso identificar se esse comportamento tem a ver com a maneira como aprendeu a lidar com essa questão que pode ter levado o indivíduo a conformar-se com a situação e não sentir a necessidade de mudar de atitude.

        A Bíblia traz um relato de certo paralítico que tentou durante trinta e oito anos que alguém o levasse para ser curado nas águas de um tanque chamado Betesda. De fato, ele não queria só a cura, mas a libertação. Aqui, estamos diante de um paralítico que não desistiu, até que foi visto por Jesus que o curou. Apesar de paralítico, não estava paralisado em seu desejo e ação intencional pela cura. Ele não estava escondido numa caverna ou dentro de uma casa lamentando a sorte. Esse homem estava num lugar estratégico, onde podia ser visto. Ele estava fazendo a sua parte. O paralítico não era responsável pela "cegueira" dos demais que por ali passavam e se desviavam dele. Era por mérito dele estar ali, crendo que a possibilidade de conseguir seu objetivo não estava em outro lugar. Seu "mérito" era a parte dele, porque tinha um objetivo: ser curado. O preço que ele pagou foi estar ali, esperando que um dia seria curado e liberto. Mas ele não estava só esperando; era um paralítico em movimento; ele estava "operando".

           É preciso identificar o que é comportamental, fruto de um aprendizado, o que é cultural e o que é físico ou cognitivo.  O erro é decretar o assistencialismo como regra e aniquilar os méritos individuais daqueles que são aptos para a luta.  

Numa ocasião, Jesus disse aos seus discípulos que “os sãos não precisam de médicos, mas sim, os doentes”, daí podemos entender que os saudáveis podem cuidar de si mesmos e também dos outros, em caso de necessidade.  

     Levando essa questão para a discussão da ideologia meritocrática, ou seja, o indivíduo saudável, que venceu sem contar com privilégios, mas cumprindo passo a passo com seus deveres e obrigações para conquistar seu alvo, “sacrificar” a meritocracia em nível amplo para “dar vida” àqueles que dependem de tratamento especial, torna-se um freio ao estímulo do crescimento, pois, em muitos casos e, na maioria deles, são as dificuldades, as limitações e as portas fechadas que despertam no ser humano a luta pela sobrevivência e o desejo de superação. Isso precisa ser valorizado, sim. 

     Se diante das lutas e dos desafios podemos contar com o conforto de um sistema que oferece uma saída sem esforço e onde a meritocracia não representa um ponto diferencial para credenciar cada indivíduo para suas funções na sociedade, isso representará estagnação e desinteresse de superação até em indivíduos, antes saudáveis e motivados, agora vencidos pelo cansaço de tanto empenho sem resultado. 

A meritocracia precisa ser vista com distinção, assim como a assistência aos menos dotados de capacidade também precisa ser olhada com olhar menos politizado e mais humanizado; menos globalizado e mais individualizado. Nenhum deles pode ser decretado como a regra. O fato é que um não pode anular o outro. Mas em se tratando de política ideológico-partidária isso é terminantemente inviável para os interesses daqueles que ocupam o poder, preferindo manter o caos generalizado e depois oferecerem assistência, para sobreviverem intocáveis e parecerem necessários. PENSE BEM!

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