quarta-feira, 25 de abril de 2018

Limpos de mão


Mãos limpas respondem a um coração limpo e a uma consciência tranquila. Observemos que todas as ações praticadas pelos homens, aquelas que se manifestam fisicamente, nascem no plano espiritual. 

Ultimamente, é possível perceber uma crescente onda de discussões sobre o comportamento social e político, até mesmo de indivíduos cujos argumentos não passam da superfície e não geram reflexão quanto à origem dessas ações nem o despertamento para um olhar de mudança, exatamente por haver o direito de autodefesa, da livre expressão da vontade e interesses, que é conferido a todos. Por outro lado, o direito à autodefesa jamais poderá contrariar o princípio da verdade e da justiça. 

O bom caráter, em tempo algum, nunca foi tão requisitado quanto agora. O bom caráter é aquele que prevalece mesmo diante de condições que contrariam sua prática. É manter-se íntegro onde os apelos sugerem a desintegração daquilo que é justo e honesto. 

Os homens jamais obterão mãos limpas apenas lavando-as de suas sujeiras externas senão cuidando de suas ações que nascem na ideia, nas conjecturas, nas maquinações de mentes que não observam as referências da verdade.  Dependendo do contexto em que o ser humano está inserido, a verdade é uma espada; é guerra; a verdade sacode. A lei se torna inimiga, e a aplicação da justiça, crueldade. 

De fato, onde é necessário que a verdade e a justiça cumpram o seu papel, é o lugar onde mais se observam conflitos e traumas que se revelam por comportamentos rebeldes, pois cumprir com o que é justo e honesto contrasta com a  luta dos indivíduos pela manutenção de seus vícios e sentimentos egocentristas, fazendo parecer que seus interesses são a ordem natural de suas ações, cujos fins justificam os meios. 

      É necessário que haja em cada ser, o desencadeamento de uma operação espiritual que arrefeça o ímpeto pela busca desenfreada da satisfação da carne. O pendor da carne rebaixa o homem ao mais profundo abismo e o aprofunda ainda mais quando este tenta remendar seus erros ao invés de emitir um grito de socorro em busca da regeneração e retomada de seus valores perdidos. Para muitos enraizados e ativos nas alas do mal, o arrependimento se torna algo constrangedor e humilhante; quanto mais alta sua representatividade pública, maior torna-se seu constrangimento; daí construir sua defesa com a tese de que existe uma perseguição, nada mais é do que uma tentativa de sobreviver mesmo em meio ao caos e, assim, no caos, reconstroem outros rumos  e aprofundam-se ainda mais no abismo, fazendo do abismo e do caos a sua ordem normativa. 

    Todas essas questões nascem na esfera espiritual do indivíduo. Do lado de fora, só se manifesta o que se alimenta na alma.  Não adianta lavar as mãos; colocar máscaras; usar muletas.  Importa saber onde está sintonizado o coração. As mãos só correspondem ao sentimento mais profundo do ser. 

terça-feira, 24 de abril de 2018

A Justiça Divina


É preciso entender claramente o que é do homem e o que é de Deus. Mesmo reconhecendo que Deus é o dono de todas as coisas e nada foge ao seu conhecimento, Ele não interfere nos atos praticados pelos homens, a não ser para fazer valer a sua justiça por meio de instrumentos humanos para reconstruir ou restabelecer sua ordem.  

         Quando o assunto gira em torno da identidade de Deus, no sentido de torna-lo reconhecido entre outros, a manifestação é do próprio Deus diante dos homens para que o mundo O reconheça através de sinais objetivos e subjetivos em circunstâncias diversas.  

      Sem uma identificação característica que nos remetesse a Deus, jamais entenderíamos a verdade; não teríamos um ponto de partida, uma referência; não poderíamos despertar em nós o discernimento entre o bem e o mal por meio de uma consciência que acusa tudo aquilo que praticamos. Quando o homem não dá importância à "voz da consciência" no sentido de advertir a necessidade de uma mudança de atitude, sem dúvida, haverá uma consequência materializada,muitas vezes traumática. 

O agir de Deus é tão presente e natural que não depende necessariamente de interferências humanas e materiais pois Ele age, primeiro, na consciência que também é despertada pela palavra que ouvimos; pela verdade revelada; por ensinamentos e pela exortação.  

 Relatos bíblicos apontam que, muitas vezes, os homens serviram apenas de condutos para que esse agir de Deus acontecesse para despertar mentes adormecidas ou cauterizadas pela mentira.  

No plano de Deus, Ele não aceita que a sua justiça seja confundida por vingança, nem o seu amor por condescendência com o erro; não permitirá que os homens falem em seu nome o que Ele nunca afirmou; que chamem o bem, mal, e o mal, bem. 

          Foi assim que Deus agiu por meio do profeta Elias diante de um povo idólatra que não reconhecia o Deus verdadeiro. O agir de Deus aconteceu num momento em que seu nome era colocado a prova. Em nome de Deus, Elias venceu os profetas de Baal; foi assim com Moisés durante o período em que esteve no Egito para libertar o povo escolhido de Deus, escravizado e humilhado pelo Faraó. Era a identidade de Deus que estava sendo colocada a prova e Ele respondeu de maneira que todos entendessem que sEu era o poder e o domínio; do mesmo modo Deus agiu com os três jovens na fornalha ardente que não se curvaram em adoração à imagem do rei Nabucodonosor. 

          Neste mundo não estamos livres dos embates em todos os segmentos da vida, seja em relação à política, às nossas relações sociais no meio em que atuamos; em nossas confissões e profissões, entre tantas outras coisas nas quais estamos envolvidos. Se agirmos em conformidade com as orientações de Deus, seremos vencedores pois, em nome de Deus, a luta deixa de ser nossa; aqueles que se levantarem contra nós, estarão se levantando contra o próprio Deus que não se deixa escarnecer. A bandeira daquele que decide servir a Deus, jamais trará a estampa de sua própria ideologia, de suas cores e preferências, mas trará as marcas da justiça divina que se manifestou por Cristo em favor de toda a humanidade. 


terça-feira, 17 de abril de 2018

Jornalista ou porta-voz?

         
Quando iniciei no radiojornalismo nos anos 80, meu diretor dizia: "A opinião pública é burra; ela vai sempre se embasar naquilo que ouve e que vê por fora para dizer qualquer coisa. As pessoas terão como verdade o que assistem nos grandes noticiários de rádio e televisão. Mas a verdade pode estar por detrás das cortinas". 

Ele dizia isso exatamente para nos orientar de que, além de ouvir as pessoas de determinados movimentos organizados, é preciso saber o que está por trás desses movimentos, o por quê de cada coisa para que a informação seja esclarecedora, elucidativa e justa. Assisti certa vez a uma entrevista com o ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Ele dava explicações sobre os arrastões feitos por menores nas praias, e criticou o que a televisão mostrava. "A câmera de televisão filma uma faixa de areia e diz que é um deserto". "A televisão pode mostrar o ângulo que quer e omitir outro", dizia. Brizola tentava explicar que o caso dos arrastões não era generalizado como parecia o destaque que a reportagem estava dando, levando terror à população. 

Nos últimos dias é possível perceber que grande parte da classe jornalística tornou-se porta voz de movimentos sociais. Dificilmente os repórteres apresentam informações complementares para elucidar determinadas questões.  São divulgadores de notas oficiais desses movimentos e reprodutores de palavras de seus representantes. Para que mobilizar equipes de repórteres ou jornalistas para cobrir determinado fato para mostrar aquilo que já está explícito e falar o que todos estão vendo? 

        Fiquei pensativo após acompanhar a entrada de uma repórter numa importante emissora para falar da ocupação do Triplex no Guarujá onde representantes do Movimento dos Sem Teto adentraram. A repórter repetiu as palavras do líder do movimento que disse ter se reunido com Lula para falar da ocupação. Lula teria dito: "Se o triplex é meu, é do povo".  

      A tentativa de desqualificar a justiça e bater na tecla de que Lula não é dono do imóvel sugerindo que o ex-presidente é inocente, foi perfeitamente entendido na notícia dada pela repórter ao simplesmente transmitir as palavras do líder do movimento, sem quaisquer outros esclarecimentos ao telespectador, como por exemplo, a menção de que Lula foi condenado por "ocultação de patrimônio" no caso do triplex, daí a ausência de documento de propriedade assinado por ele.

É preciso que jornalistas cumpram o papel de transmitir de maneira justa, honesta e não deixar pairar dúvidas que venham sonegar da sociedade o direito à informação. Por outro lado, são meros funcionários de empresas de comunicação que deveriam estar a serviço não apenas da informação, mas do esclarecimento. É o esclarecimento justo e sem nebulosidade que revela a imparcialidade. Por fim, não é preciso ser jornalista para ser um bom porta-voz. Isso é um desperdício. 

       

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Operação Lava Alma

O suborno, a mentira, a corrupção estão sempre ligadas à ilegalidade. “Andar na lei” livra o ser humano de uma série de problemas. 

Lembro-me quando trabalhei em feira livre ainda na adolescência, das vezes que um fiscal da prefeitura ia cobrar “propina” dos feirantes que não tinham licença para trabalhar ou estavam com alguma outra irregularidade. Nesse caso, a corrupção acontecia em uma via de mão dupla. Tanto o fiscal, cobrador de propina, quanto o feirante devedor de tributos ou falta de alvará da prefeitura agiam na ilegalidade. A diferença era que, aquele que cobrava propina representava o governo municipal; ele tinha o poder oficial para aplicar multas ou orientar os feirantes sobre a regularização, mas preferia ganhar dinheiro ilegalmente.  
Esse é só um exemplo simples de como o suborno, a propina, o achaque, fazem parte de uma cultura que muitos adotam para não cumprir a lei e os trâmites legais para o exercício de uma atividade empreendedora. É o tal “jeitinho” do  qual muitos se utilizam para conseguirem o que querem ou precisam sem submeter-se à burocracia, o passo a passo que a lei prevê. 

Mas andar em conformidade com a lei é, sem dúvida, uma proteção contra a corrupção em via de mão dupla. 

Por um lado, a burocracia que existe no sentido de dificultar a fraude, acaba abrindo brechas para a fraude por meio de uma criatividade desonesta. Algumas dificuldades são colocadas de maneira objetiva para o interessado concretizar seus objetivos legalmente, mas o vício da propina torna-se o caminho mais fácil. Mas a corrupção está presente tanto do lado que tem o poder de conceder benefícios ou licenças, quanto daqueles que recorrem a meios ilícitos para alcançar seus objetivos. Mas o poder maior é de quem detém a chave, a autoridade sobre a coisa ou objeto da causa. Não abrir exceções ou criar uma via paralela para que a lei seja a mesma para todos é dever de quem deve zelar por ela. 
A Bíblia mostra a corrupção, a mentira e o engano como algo histórico em todas as gerações. Para receber a “bênção” do pai, já idoso e cego, Jacó se passou pelo irmão mais velho que teria a bênção por direito. Esse foi o problema mais grave depois de Jacó ter persuadido seu irmão Esaú a vender a ele sua primogenitura, oferecendo-lhe um prato de lentilhas em troca. 

Ananias e Safira, membros da Igreja Primitiva em Jerusalém tentaram enganar o Espírito Santo ao reterem parte do que seria destinado à Igreja, dizendo, enganosamente, que teriam ofertado;

Zaqueu era um funcionário público arrecadador de impostos e tinha a fama de achacador. Ele não era seguidor de Jesus, mas conhecia de longe sua fama. E, ao encontrar-se com Cristo que foi visitá-lo em sua casa, Zaqueu passou por uma transformação ao decidir seguir o Mestre. Assim ele prometeu devolver quatro vezes mais o que tinha defraudado da população. 

A maior e mais eficiente operação que o ser humano pode passar é pela operação “Lava Alma” que não se limita ao pagamento da culpa através das leis que foram feitas para regular as ações humanas e ser a norma do juízo, mas ter a “alma lavada” pela purificação que a graça e o amor de Cristo trazem ao ser humano que o leva à conversão, a mudança de rumo.

“Aquele que roubava, já não rouba mais; aquele que furtava, já não furta mais; aquele que mentia, não mente mais”. 

Já não discutimos mais lei, costume, jurisprudência e doutrina, mas sim, como nos deparamos com o bem e o mal no tribunal da própria consciência. Passamos a julgar nossas próprias motivações que nos impelem à prática daquilo que imaginamos ser justo e o que há por trás do motivo que nos leva a atirar a primeira pedra ou a recolher-nos dos protestos. A verdadeira justiça se estabelece pela aceitação de suas normas para que tenhamos paz de espírito.  

A graça de Cristo dá um sentido mais profundo à condenação da lei, pois nos submete à própria consciência. Apenas a condenação da lei não purifica a alma humana nem pode regenerar suas tendências errôneas. Pela graça de Cristo, é que nos arrependemos para continuar não como antes, mas com um novo olhar e uma nova perspectiva de vida. 

Se não por ingenuidade, a crise é proposital e de cunho político

              Eu vivi num tempo, não muito distante, em que muitos usavam essa frase retórica: “De que adianta ter carro e não ter di...