sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Salvando para libertar

       
A grande frustração, decepção e dramas na sociedade começa a partir do momento em que o homem procura alguém que o represente. Isso tem criado personagens na história que se colocam como capazes de responder a esse anseio da humanidade. Essa necessidade por um representante ou salvador mostra a condição de escravidão a que o próprio homem se submete. 

Mas é a partir dessa necessidade real, ou construída por uma sociedade em que as diferenças intelectuais e de discernimento são latentes e a partir das quais, acabam exacerbando outras diferenças, que a aclamação por um "salvador" também aumenta. 
Mas, para aqueles que necessitam de socorro, é preciso mesmo um salvador, com dignidade e honestidade a ponto de levá-los à libertação, não só no aspecto físico, mas que tenha condições de impactá-los a mente, o pensamento, a análise sobre o próprio salvador e suas motivações. 

A libertação da mente leva o indivíduo a ter o senso de sua própria responsabilidade, tornando-se assim, capaz de representar-se a si mesmo e, como ser plenamente atuante, agir pela própria liberdade de escolha e decidir o seu futuro. 

      Há os que jogam a boia com interesse de escravizar aquele a quem salva, e isso se torna, em muitos casos, inevitável, da parte do "náufrago,"pelo senso de gratidão que o salvo desenvolve por seu salvador. É a partir desse ponto que o salvador ganha força sobre o salvo. 

     Sob o ponto de vista óbvio, esse comportamento ocorre naturalmente com todo aquele que se sentiu beneficiado, atendido num momento difícil em que a esperança parecia naufragar. Contudo, ocorre um fenômeno de difícil compreensão. Até quando alguém deve se sentir devedor desse salvador? Até que ponto esse salvador considera que você o deve, pelo fato de tê-lo salvado? É a partir desse ponto que diferenciamos aquele que salva para libertar (você não me deve nada, siga em paz), e aquele que salva para escravizar (eu salvei você, fiz muita coisa por você, agora você me deve). 

   Essa concepção não ganha espaço em mentes libertas, contudo, não desqualifica ou desvaloriza a ação do salvador porém, nesse caso, a decisão por seguir a esse salvador tem um significado transcendente  daquela criada inicialmente pelo impacto emocional que a salvação naquele momento produziu. A salvação e a consequente libertação (vá em frente, siga o seu caminho) desobriga o homem do peso da culpa e da necessidade de prender-se a quem o salvou. O senso da obrigação pelo seguir, seria uma escolha pessoal, não resposta a uma imposição circunstancial criada a partir daquele momento. O seguir passa a ser uma decisão pessoal por livre escolha, não apenas por reconhecimento do benefício recebido, pois isso denotaria uma cega escravidão comparada a amplitude do amor e da graça que seria a real motivação do salvador que também liberta.  

Elias Teixeira - MTb 00768-RJ 

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