segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Comigo não aconteceu nada"

Os internos de uma clínica psiquiátrica resolveram fugir pulando o muro da entidade, seguindo-se uma perseguição para captura-los de volta ao local. Dois deles feriram-se com certa gravidade durante a escalada do muro, e foram pegos com facilidade, sendo levados ao pronto atendimento para tratar os ferimentos. O mais esperto deles foi longe, sendo cercado depois pela polícia. 

O repórter que foi cobrir o caso perguntou ao capturado: "Os seus amigos se machucaram, você acha que vale a pena tentar fugir? Viu o que aconteceu com eles? 

O paciente psiquiátrico respondeu ao repórter: “Comigo não aconteceu nada”. 

Parece que a resposta desse paciente considerado louco, representa a loucura de muita gente. “Comigo não aconteceu nada” parece ser o bastante para não considerar o que o outro sofre.  O egocentrismo faz parte da humanidade e somente os mais evoluídos espiritualmente começam a despertar outro olhar, por entender que faz parte de um todo. 

Se os governantes pensassem nos contribuintes, e que os impostos pagos por seus patrícios devem ser revertidos em desenvolvimento e assistência médica e social, educacional e econômico, a situação do país não chegaria ao caos; seu povo não mergulharia na miséria; se os ladrões pensassem em suas vítimas e no trabalho que tiveram para conquistar seus bens, não seriam ladrões. Mas os ladrões pensam em si mesmos, por isso roubam; assim como governantes que usurpam do poder em benefício próprio. Se cada um amasse ao próximo como ama a si mesmo, se se esforçasse para fazer aos outros em proporção semelhante ao que faz por algo de seu próprio interesse, a corrente do egoísmo se romperia e a humanidade experimentaria uma mudança de polo, a "desinversão" dos valores corrompidos. 

       A atual paralisação dos caminhoneiros fez revelar a grande preocupação que cada um tem de proteger-se em primeiro lugar, brigando por seus próprios  interesses, pois os interesses da nação vai além da redução no preço do combustível.  

Foi assim com esses trabalhadores que, pensando em sua situação, paralisaram suas atividades para pressionar o governo a atender suas reivindicações, entre elas, a baixa do preço do óleo diesel, sem pensar que suas ações afetariam a vida de outras pessoas por uma reivindicação que significa um remendo novo em pano velho, onde as condições a que se chegou necessita de mudança nas estruturas.    Pensando em si, quantos correram para os postos de combustíveis para encher os tanques dos veículos, pagando até mesmo preços superfaturados pelo litro; pensando em si, quantos correram aos supermercados para garantir uma grande compra e manter a  despensa cheia, mesmo sem precisar no momento.  

A crise tem duas funções: a de nos materializar ainda mais, mostrando-nos o quanto ainda estamos presos às condições da matéria pelo modo ansioso e desesperador de lidar com aquilo que imaginamos perder, ou despertar a nossa visão espiritual, que nos oportuniza olhar um pouco à parte, e observar que cada um é que dá o tom desesperador e ansioso de uma situação, quando se deixa levar pelo senso comum, seguindo o ritmo das massas.  A crise pode servir para revermos os nossos conceitos dos valores da alma ao olharmos de maneira solidária àqueles que atravessam situação semelhante. Nesse ponto, o “cada um por si”, revela o nosso instinto animalesco que destoa dos propósitos originais pelos quais fomos instruídos para o nosso equilíbrio nas relações com os semelhantes. O antigo adágio popular: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, nunca foi tão real. É na crise que nos revelamos. É na crise, também,  que a nossa percepção daquilo que revelamos nos mostra o que somos e o que queremos ser. 

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